terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A arte de entender a subjetiva comunicação objetivamente


Benício. Os olhos turvos, média estatura, a calvície e a longa idade. O paletó asseado, a nobreza. A antiguidade, a longa descrição, as luvas na mão para que essas não sejam eivadas pelas asqueiras da vida, a hipocondria. A pontualidade na escrita. Sobretudo, a objetividade. A objetividade clássica, a aparência jônica e a vida metrificada.
Tudo isso em ruínas.
Eu, que te poupei o trabalho de que tu que tenhas que estereotipar uma personagem, ao vagar pela ilha de Bora Bora (desconfio que a falta de objetividade comece aqui), deparo com uma figura de campo energético extremamente intenso e carregado. Apesar de a contragosto, fui carregado a esta curiosa personagem por uma força maior (não, "força maior" é de uma subjetividade versátil demais, falemos de "curiosidade" - que, por ser sentimento, é ainda muito subjetivo, contudo é mais genérico)

- Bom dia! – soltei, muito polidamente
- Grunf! – retornou-me pomposamente a figura
- E então... – fui persuadindo-a de mansinho – não vai se apresentar, se nomear, explicar, estereotipar? Os leitores e as personagens figurantes – Ah, leitor, esqueci-me de citá-las, é que elas sempre perambulam pelas estórias e histórias sem serem percebidas mesmo... – estão ficando aflitos com seu conturbado campo!
- Por quê? – rodopiava a figura
- Questão de continuidade de raciocínio... sabe como é que é... trava.
- Pois bem – chicoteava a figura – sou um zigurate babilônico e me chamo Objetivo.

Agora, sim! Todo o cenário imaginativo havia mudado e nunca me senti tão tolo e absurdo por falar com algo semelhante a... Torre de Babel. Moldei-me todo para acreditar tal naquela situação tão inconcreta, de modo que pudesse me acomodar, normalizar a situação e, portanto, me sentir são. (desconfio que isso tenha sido a segunda parte da falta de objetividade.) Suspirei, mas não consegui conter o esganiço:

- Como podes tu, logo tu, seres objetivo? Se tu estás a falar com a figura do homem: a real objetividade?
- Credo, pra quê tanta pompa num papo coloquial, amigo? – o zigurate boqueou-me e como retomei o olhar com ódio e frustração, tornou-se a responder – certo, se estiver entendendo, assinta com a cabeça, ...? - e, objetivamente, me lançou um olhar com curiosidade.
- Benício.
- Benício. Certo, Benício, assinta com a cabeça quando estiver entendendo, ok?

Eu assenti.

- Vejamos: se é você a objetividade... – narigava ele – então, seguindo sua própria linha de raciocínio, eu só posso ser o que sobrou: a subjetividade. Concorda?

Eu assenti.

- Portaaanto... nada mais subjetivo do que uma objetividade sendo subjetiva – ele, incrivelmente e objetivamente sorriu – não é mesmo?

Eu parei de assentir. Esmiucei todo (claro que metaforicamente!) e gaguejei:

- A-acho que estou com um pouco de dor de cabeça.

O zigurate encarava um bem-te-vi que passava.

- Grunf! – galantemente o fez para o pássaro e imediatamente virou-se para mim – isso é erro seu, sabe... desde pequeno, quando aprendeu a comunicação oral e a aprimorou em seu amadurecimento. Se tivesse usado todas as comunicações que estavam incutidas em você quando pequerruxo – e você as sabia usar, na medida do possível -, não teria problema. No entanto, concentrou-se meramente em uma e, cada dia mais, foi implodindo as outras formas de se comunicar, sabe...
- E daí? – falei concentradamente muito são: sim, eu havia conseguido!

Como resposta, o zigurate, que agora afirmava se chamar Rosseau (perguntei: “por causa do filósofo?”, ele retrucou “nah... tive uma namoradinha que gostava do nome”), entoou a 9ª sinfonia de Beethoven – sua arcádia dentária tinha sido substituída por teclas de piano.

Eu não perdia o orgulho. Nem a pose. Mesmo diante de tamanho nonsense! Os princípios e a imagem são as coisas mais objetivas que um ser (inanimados, animados... dane-se! “Não entender” é também de uma objetividade pura) pode ter. (desconfio que isso tem sido a terceira parte mais subjetiva.)
Deus, como pensar com essa música?

Uma das personagens figurantes, entretanto, se achou de aparecer porque eu as havia apresentado no início. Era Alexandre, o Grande. E o que era pior: tendo como companhia de sua caminhada Diógenes, o Cínico – que implantara rodinhas em seu barril para um bom passeio pela fabulosa vista de Bora Bora

- Salve, salve, camarada! Eu e o Di – e apontava pra Diógenes – estamos agradecidos por ter nos impulsionado a aparição. A propósito, se quiseres alguma e qualquer coisa, peças ao Di, e não a mim!

E com sua ida, não pude deixar de notar que, embora ainda com expressão muito emburrada, o quão cheio de adornos estava o Di! Entretanto, não era ainda o que mais me intrigava:

- Como podem eles não fazer sentido se são de carne e osso?
- São personagens históricas, portanto, memória humana – e essa é passível de alterações. Não são carne e osso, mas fazem mais sentido do que você pensa: note essa cordialidade entre eles! A memória pode até vir com seus contratempos, mas, se soubermos como, dá para usá-la como representante da afetividade, por vezes.
- Não entendo. – roubava o cinismo de Diógenes.

O Zigurate, incrivelmente e mais uma vez objetivamente, olhou-me e triturou-me cada pedacinho (é claro que metaforicamente!):

- o seu “não entender” não faz o menor sentido.

Como se por vingança de ter meu orgulho ferido e por questões de princípios, invadi hall adentro daquele enorme zigurate. Subitamente, objetividade e subjetividade começaram a se difundir, de modo que o abstrato se tornava mais fácil de se entender e o concreto se relativizava. Como desconfiei que esse caos seria, portanto, criação minha, acabei – por ironia do destino – por me defender da forma mais insana que pude. Não me abaixei (embora tivessem concretos que literalmente caiam), não corri: me belisquei.

Acordei.
...
Fui olhar a janela. As pessoas passavam umas as outras. Algumas se comunicavam verbalmente. Consolidavam relações, empatias. Uma ou outra criança corria ao fundo. Tudo seria objetivamente. A menos que elas não queiram tão só e pouca comunicação.
Desconfio que esse sonho e estas idéias não tenham sido partes tão subjetivas assim.

Em prol disso, pararei de escrever e espero, então, que a nossa comunicação continue a ser compreendida.

domingo, 6 de setembro de 2009

Penso, logo não durmo


AVISO: O Blogspot.com cansou de não se responsabilizar pela leitura e, atualmente, simplesmente não se importa.

Certa noite, dessas de nenhuma particularidade especial ― em que não há lua cheia, ou ao menos não se sabe se há lua cheia ―, uma figura adentrava no compartimento de trabalho da outra. A figura, da qual vale a pena ressaltar seu aspecto flatulento e decadente (desde a camisa de botão apertada que acentuava sua gordura, grande altura e mamilos aos óculos de tartaruga que retiam os pingos de suor provenientes de uma atual área de couro cabeludo desmatado), verificou bem o lugar onde tanto havia demorado para chegar e, ao perceber uma placa com os dizeres "Departamento do Lobo Occipital", despejou sobre a mesa a pilha de dois andares de livros, planilhas e todo tipo de material que trazia consigo.

― Aqui estão, senhor! Informações que você vai precisar pro desenvolvimento do pensamento...

A outra figura do outro lado da mesa ― e todas essas características das personagens são tão inúteis como o céu de hoje, mas, ainda assim, iremos falar ― tinham olhos fundos, que não piscavam uma vez e, quando falava, notava-se muita cautela para que articulasse bem as palavras que soltava. Era medroso, verdade. Contudo, se não fosse medroso, seria um "balbuciador de palavras" e, portanto, louco.

... Pensamento?! ― comunicava com grande esmero uma fala que nem era tão engenhosa assim.
― Isso, amigo, trouxe informações de tudo que é lugar e tempo: desde Nabucodonosor até as fornecidas há instantes pelo Twitter do presidente americano. Trago também intertextualidades: as regras do novo acordo ortográfico e a ordem político-econômica de todos os países participantes. Tenho a utilização perfeita de todos os elementos químicos na culinária; o sentimento nacionalista exacerbado entre povos antigos já esquecidos: os Smurfs...
O QUE É ISSO?! O SISTEMA ENLOUQUECEU?! ― interrompia e berrava o Chefe do Departamento ― isso é a coisa mais absurda que já ouvi! Afora a situação política dos Smurfs, como poderei administrar toda essa informação agora? E desde quando o pronome de tratamento que você deve dirigir a mim é "amigo"?
― Desculpe, amigo.
― Senhor!
― Senhor.

O desengoçado mediante ficara petrificado com a reação do Chefe em relação às informações trazidas. Por sorte, haviam lhe precavido que tal situação poderia ocorrer e lhe guarneceram com um papel de instruções para casos de emergências e revoltas. Meteu a mão no bolso e tornou a ler:

― Hã... tem algum livro de Domenico de Masi aí no meio, não tem?!
― Tem.
― "Ócio Criativo"?
Isso ― falava com um olhar cortante, de que não caíria na possível pedante argumentação que poderiam incutir no tolo mediante.

O mediante olhava uma parte do papel que, devido ao seu suor, havia borrado e se tornado completamente ilegível.

Olha, eu não consigo entender o resumo ou a problemática do livro, mas uma intuição me diz que você deve unir todas essas informações a fim de, no futuro, usá-las numa perfeita combinação entre lazer, negócios e criatividade, sabe, senhor.
Intuição?! ― falava com deboche o do outro lado da mesa
Isso mesmo, amigo.

O Chefe do Departamento começou a pensar sobre a ideia, ou ao menos foi o que aparentou fazer, até sua boca começar a espumar fortemente, seu corpo começar a cair e convulsões tenham sido começadas. Tudo isso porque, antes de se comunicar, não havia estruturado bem suas palavras. Não pensava, balbuciava. Entretanto, tornou-se corajoso, enfim, mas, como suspeitávamos, tornou-se louco.

― Informações... tirar... daqui... mesa

Por alguma razão literária, ele até se expressou bem, porque o mediante conseguiu entendê-lo (embora sempre ache que nunca consegue entender decerto bem)

Não estou entendendo, amigo! "Tirar informações"?! E levá-las para onde?
Amontoe-as... ali... Sessão Onírica Automática...
Sessão Onírica?! "Automática" ainda por cima, que colocam informações tão desordenadamente! Isso não tem o menor sentido...

Com olhos cada vez mais fundos, espuma cada vez mais densa, o Chefe do Departamento, ainda assim, conseguiu formular um único berro inteiro:

O SISTEMA QUE NÃO FAZ O MENOR SENTIDO! SÃO 03:37 DA MANHÃ! MANDE TUDO PARA A SESSÃO ONÍRICA AUTOMÁTICA JÁ!
Mas, amigo...
É SENHOR!

domingo, 7 de junho de 2009

A vida imita o computador ou o computador imita a vida?


AVISO: O Blogspot.com não se responsabiliza pelos danos e náuseas dado a leitura do conteúdo abaixo. Prega justamente o inverso: se a leitura lhe parecer nociva e sem pé nem cabeça, encerre-a quanto antes!

Dado o processo de "mitose" no Rapidshare que acabou por gerar sua vida, Bill.exe nascia. (Breve nota: há ainda a versão abrasileirada "Severino.exe", porém, como não queremos alusões à obras literárias de cunho regionalista, fiquemos com o americanizado Bill que atende com mais eficiência à uma demanda de estórias globalizadas)
Primeiramente, como criatura simplista, era Bill.rar. Um pouco inútil, é verdade, dada a sua compactibilidade. Alguém, porém, que regia aquele espaço sob o IP 66.247.42.238, deu-lhe tempo e energia para que se tornasse, então, um ser muito mais complexo.
O que esse ser onipotente não poderia prever era a ingenuidade de Bill.exe, isso porque Bill trouxera outras informações com ele que, embora achasse que adquiriria mais notoriedade e respeito com arquivos como "Leia-me.txt", tais arquivos eram dispensados por essa tão exigente onipotência -- no mínimo, jogados na Lixeira.
Ao perder projetos de vida como esse, Bill indagava-se acerca da sua existência no computador e procurava respostas para suas perguntas, mas o que ele não sabia é que nem mesmo suas perguntas(ou principalmente elas) não estavam nem um tiquito perto da verdadeira realidade.
Bill, porém, acabou por presumir uma coisa: a sociedade em que vivia era escatológica. Isso signicava que ele deveria seguir sempre seu metódico programa para que não fosse punido no juízo final. E quanto a isso nunca vacilou! Ora, ele conhecia histórias de outros arquivos que, sabe-se-lá por birra ou má administração da onipotência -- vale ressaltar que o espaço sob o IP 66.247.42.238 vive sempre saturado, excedendo a quantidade de arquivos que permite o bom funcionamento do computador, daí, pelo mesmo motivo, alguns arquivos se irritam e resolvem não funcionar ou corromper outros, só por protesto --, esses arquivos foram, então, condenados à lixeira e depois à sentença da "exclusão do computador".
Por esse motivo, Bill.exe fez sempre o máximo que pode, aceitando todos os preceitos do figura onipotente, mesmo que ela não ligasse para o seu funcionamento (todos exaltados no extinto "Leia-me.txt")

Acabou que, por conseguinte, Bill recebera finalmente atenção do Senhor Externo e pudera evoluir para novas versões: Bill 2.0, Bill 3.5, Bill 4.2., até tornar-se Bill 7.0.
No auge do aperfeiçoamento do seu programa, Bill não poderia sentir-se mais feliz(embora demonstrasse estar sempre trabalhando, afinal, Bill.exe era muito profissional): conheceu sites de compartilhamento onde nunca antes tinha entrado; o número de suas duplicações crescia cada dia mais e sua empresa crescera tanto que, pasmem, ele poderia se vender, caso acrescentasse umas ínfimas alterações em seu novo programa!

O que Bill se esqueceu, porém, fora da primeira conclusão que havia tomado da sociedade em que vivia: escatológica. Ou seja, seu julgamento final estaria por vir.
E ele não falhou em sua percepção! Naquele fatídico dia, então, de data desimportante para a continuidade da estória, um outro programa lançara-se nos sites, divulgando as mesmas funções do Bill juntamente com novidades inimagináveis e, para ser bem franca, bem esdrúxulas. No fim, o programa agradou a população... talvez porque fosse gratuito.

Desapontado, pouco a pouco Bill fora deixando de pertencer a outros sites. Desempregado, desamparado, Bill passa a se concentrar em único IP -- aquele cujo dono lançou-o primeiramente no Rapidshare -- do qual não sabemos, e ainda que soubéssemos, não poderíamos informar o número.
Porém, Bill.exe, em seu esgotamento de vida, poderia ter, ao menos, desdobrado dobramentos nunca antes desdobrados. Mistérios como o número desse IP matriz, por exemplo. Mas não! Ao invés disso, desolado como andava, foi se tornando um arquivo cada vez mais velho, mais marginalizado. Até que um dia, quando encontrava-se em quarentena devido à um vírus que lhe assolava, Bill é excluído do computador.

A informação que se segue é algo que Bill.exe jamais poderia supor durante sua "vida severina" e que certamente seria cômica, se não fosse trágica: tudo que ele conhecia e o que não conheceu, quantos programas não poderia ter superado, quantos não o superariam... tudo isso seria extinto, porque o computador, um dia, também quebra.
E quando isso acontecer, nenhum arquivo terá conseguido deixar de ser tão estupidamente burro para descobrir, pelo menos, o IP Matriz!

E assim falou Zaratustra.exe.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O texto mais sintentizado (ufa!) de todo o blog

Exercícios para concisão.
Começando com este.

(Droga, duas linhas! O próximo eu consigo...)

E quando se é de Marte?



Quem vive perdendo a cabeça por aí, acaba se perdendo por outro planeta e, às vezes, nem sabe. O grande problema é descobrir que a cabeça não ficou na Terra, mas ainda pior que isso é descobrir que ela sempre esteve na Terra.

Para aqueles que tem seus gases sendo exalados constantemente por estes ares, há de sentir curiosidade, ao menos uma vez na vida, de como seria se permitisse à suas moléculas um passeio por entropia por outros ares que bem entenderem. Quando se é criança, as migrações são muito mais fáceis, mas depois o espírito nômade vai se esvaindo, se transformando numa respiração terráquea nua e crua, muito bem conformada em sê-la. Porém, todo esse processo de respiração contínua aqui neste ambiente terrestre é sempre muito cansativo e nos remete à uma pequenez. Antes só isso e seria o bastante! O problema pior é que o ser-terráqueo é suficientemente ingênuo a ponto de se satisfazer com sua individualidade e, por se achar deveras grande, desenvolveu tanto trabalho, que este não só chegou a ser prejudicial, mas também soube evoluir muito bem, obrigado, a sua pequenez. Entretanto, pasmem, a vida de um indíviduo terráqueo acaba! Logo, para quê mesmo que serviu sua perspectiva limitada à um ambiente que, aliás, só nos serviu sua hospitalidade na tão - e muitíssimo, incrivelmente, estupidamente e muítissimo de novo - recém-formada Era Cenozóica?
A cabeça "bem (in)formada", portanto, pode não ser bem formada coíssima alguma se estiver muitíssimo saturada de informações que serão usadas - dignamente, não nego - neste planeta. Entretanto não é ingênuo da nossa parte dizermos que viverá tanto assim esta Era Cenozóica?

Bom mesmo é se soubéssemos distinguir bem os mundos que copenetram em nossas cabeças ou vice-versa, podendo assim, sermos mais seletivos quanto ao que cada mundo nos oferece, não permitindo uma sobrecarga no sistema. Quanto a "sair dos planos da Terra", nem cogite ser o outro lado uma falsa-verdade a ser vivida, posto que ninguém sabe o que se é. Afinal, embora estejamos já há uns 200 mil anos por aqui, ninguém nunca respondeu perguntas simples como "de onde viemos e para onde vamos?", então como acreditar fielmente às verdades daqui?

Se há uma verdade é a de que reconhecer a vida terráquea como um todo, é reconhecer que ela é uma vergonha. Não é viável, portanto, que se pense apenas sob os padrões terrenos: seria uma sobrecarga do sistema desnecessária.
Não entender todas as coisas terrenas não é uma praga. Entender completamente, porém, subjuga o indivíduo oficialmente a pequenez. Além de acabar com toda a amistosidade possível entre os mundos e claro, acabar com toda a diversão que é fugir desse cansaço cenozóico que todos estão carecas de sabê-lo.

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector

Inventada? E tem como saber isso?
À propósito, o quentinho terráqueo não é o mesmo quentinho marciano...

domingo, 22 de março de 2009

Dia (particular) internacional vegetal


Honrados e respeitosos leitores, é com muito orgulho que apresento-me como este inanimado ser do título que vos trago. E atire a primeira pedra quem nunca percebeu um dos meus espectros se apoderando deste seu corpinho aí. Não por isso deves me considerar um parasita, só chego a funcionar como um sítio ativo que encaixa-se perfeitamente no seu substrato. É claro que, como vegetal, não faço grandes feitos, é puramente você quem se oferece - mesmo que inconscientemente - você se quebra, se despedeça todinho pra se moldar todinho e unir-se coligativamente à mim. Como em troca desse escambo, eu lhes ofereço uma energia poupada, que será diferida (terás a explicação abaixo.)
E se deves estar te cutucando agora se eu seria específico, não te consternaria na resposta: "sim". E somos distintos, particulares a cada indivíduo. E como desconheço teu olhar de compreensão - é sempre "dúvidadúvidadúvida" - também te defino nossas rédeas: somos distintos, infinitos, mas em meros dois espectros. Assim como as lipoproteínas, alguns de nós serão eliminados pelo organismo dado um certo tempo, outros se acumularão nas artérias tão excessivamente que irão causar algo que assemelha-se a arteriosclerose. Assemelha-se como enfermidade, uma enfermidade nem física, nem mental, mas espiritual. Coisa que terráqueo humano nenhum há de perceber enquanto com vida, enquanto com seu particular campo de visão. A esse estado patológico, tachamos como "piloto automático", e o parasita que o causará isso não fará por maldade própria, só corresponderá ao impulso energético que um sítio ativo tem para com seu substrato - quem se deu de se moldar todo assim para ele fora você. E, quem vive vegetando sobre o piloto automático, sofre disso dia após dia, chegando a casos que são incuráveis.
Contudo, como assemelhamo-nos às lipoproteínas, eis que, como representante, anuncio o segundo espectro: aquele que equivaleria ao "bom colesterol".

E poder-se-ia (acho que estou um tanto galante para um vegetal) ter os dois em simultaneidade. Mas se preferes ter um - e eu o recomendo que você o tenha, por vezes - escolha o que não te submete ao "piloto automático", porque este outro não chega a ser uma enfermidade. É bem verdade que te nega produções, te nega o que você tem a fazer nesta vida corriqueira. Entretanto, todo ônus vem com um bônus e eis o grande golpe deste parasita: te nega o negócio. E menos com menos, você conhece essa regra, dá mais. E o ócio é o seu presente, que quem como não pensava, acabou agradando. E eis aí o surgimento dos "insights", um verdadeiro divisor de águas na história da humanidade e o que, definitivamente, antagoniza o conceito do seu semelhante expectro. Ele te nega uns dias em suas acomodagens, mas cumpre a dívida: nunca te submeterá ao "piloto automático" - mesmo depois da morte.

Até mais ver, queridos companheiros de habitat - seja de uns meros dias, ou da vida toda - e muito obrigado pelo dia!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Cronologia média do brasileiro



0: .
1,5: tight-tagjht, thic-... tic-tac!
5: tic-tac?
15: tic-tac tic-tac eu eu eu eu? tic-tac ? tan tan não não eu! eu! eu? eu tic-tac zun tic-tac-não, eu ein
25: tic-tac tic-tac tic-tac tic-tac tic-tac aceito tic-tac!, tic-tac, tic-tactictactac!
35: tactactactactactactactactactactactactactactactactactactactactactactaction$...
45: tac$tac$tac$tac$tac$tictactictactactictactictactictac
55: tic-tac, tic--tac, tic---tac,,, tic-------lembra-se bem----tac
60: tic-tac?
65: tight-tagjht, thic-... tic-tac!
75: .

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

The "hour lunch"



A "hora do almoço" ou também a hora de tempo livre é sempre a que se dá uma escapuladinha. E pra se escapulir, a gente fala de coisas leves, coisas que amaciam ainda mais o prazer da comida.
Amar é difícil, mas especular sobre amor é facinho, facinho - isso porque não tem uma conclusão que se entre em consenso (daí quem tiver oportunidade de enrolar barato, que o faça; mas é uma pena tirar o mérito daquele que, de fato, quer falar). Coloco-me sob a desculpa de que ainda tenho muito trabalho pela frente, e admito te lançar um texto romântico feito somente para a hora do lanche. Ou despreze, ou tenha algum tom de seriedade - a hora do almoço nem sempre te proporcia textos humorísticos, uma vez que você já fizera várias reflexões acerca do teu trabalho/aula ou do puto do(a) teu chefe/professor(a) que te dá tão pouco tempo, que você sequer consegue uma boa digestão. Boa tarde e bom croassaint, e fiquem com Jeová e o texto sobre amor...

Eis aí a prova de que o amor é altruísta: se considerares ele pertencente à Terra, mas também metafísico. Espero dar uma explicação simplista, basta que te encaixes no eu-lírico (bem) subjetivo desta conversa, certo?
Acontece que, quando fazemos algo que achamos que somos destinados a isso(me refiro ao talento em alguma arte, ainda que algo concreto ou não tão concreto assim como a "arte de se casar") fazemos com tanto fervor, tanto prazer que julgamos de "fazer com amor" esse ato de servir à humanidade de alguma forma. Enquanto ainda carnais, o "ato de fazer com amor" é conjugado em voz ativa e passiva simultaneamente, logo, pelo uso da voz passiva, fica sabido que praticar o verbo tem certos interesses pessoais, uma vez que provocará satisfação do sujeito em receber a ação de volta.
Porém, toda a cerne da idéia da "satisfação na ação exercida com o amor" é dissolvida quando se ultrapassa do limiar orgânico. Chega à morte, sem meias palavras. A "satisfação" se dissipará junto com a consciência dentro do teu corpo, mas suas moléculas de DNA se dispersarão junto com sua energia vital e, se tiveres dado amor à alguma arte de alguma coisa, se tiveres feito com tanto fervor, partirá da tua própria energia vital um amor que se enclausura em algo substancial que destes tanto valor aqui na Terra. Este amor que é só dado e traz tua consciência - se manifestando de outra forma - e tua lembrança aqui de volta à Terra (sem que te provoque de volta boas sensações carnais e humanas, devido a seu atual estado), e se concordares de que, porque o amor resolveu trocar de forma - e ainda continuar essencialmente - e porque troca de forma, não tem a necessidade de querer tanto pra si - pois estará sempre em constante mutação - hás de concordar que isto é uma prova concreta de que o amor, se de verdade, é altruísta.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A linha na agulha - e a mesma que se perde (In)


Eis aí a justificativa do recesso, caso isso tenha o cutucado: a inclusão das coisas. Digo, da minha coisa. Essa impassividade até no modo de escrever - e, paradoxalmente, essa é uma das poucas conclusões honestas que tiro de mim mesma - tudo isto tem me tirado a percepção daquilo que é inefável (qualidade do bom observador), tudo isto que existe austerosamente e gradiosamente em mim.
Percebo agora que advérbios me doem. Eles engradecem o texto no sentido do tamanho, não excluem, porém, a possibilidade do texto pobre. Afinal, ainda que um ser possua um espírito exaltado, decidido a sair da matéria, adentrando no "mundo das entrelinhas", como adentrá-lo nesse último plano, entretanto, caso esse pobre ser tenha o espírito inerte - incapaz de seguir o movimento de seu raciocíneo - mas tendo como consequência o atropelamento desse último?
Eis aí o problema: a percepção daquilo que é inefável está interiormente no dito cujo, é inerente. O problema é, como expressá-la, ainda que minimamente, se o indíviduo estiver includindo?

E eu bem sei, que tachar a causa dessa inclusão como consequência da percepção-do-bom-observador seria um desaforo da minha parte: a percepção - disso que é inefável - é inofensiva. Como se aglutina a ela, porém, não.
O grande problema é não saber lidar com a percepção, não colocá-la à tona, ou ainda, não deixar que essa venha à tona.

E, qualquer bom observador há de passar por isso em vida.
Comigo não seria diferente: não há percepção das coisas no plano material, tampouco no mundo-lírico. Isso porque estou includindo, e pelo mesmo motivo não sei mostrar a vocês meu desespero em relação a isto, poderia descrever o gosto insípido que essa implosão tem e seria pouco. Poderia descrever o escárnio contra mim, mas seria pouco. O modo como sempre me oprime e seria pouco. São as verdadeiras rédeas que chegaram ao meu espírito e me conduzem agora à poucas palavras, pouco gestos e tudo o mais que for de natureza pouca.
Faço questão de ressaltar, contudo, que essa natureza não é minha.

Percebes como isso aqui perdeu o cunho descontraído que tinha? Essa natureza tem a cara da implosão, porque já vi em outros rostos que não o meu. Por isso, eu a conheço bem - graças a minha percepção do que é inefável (a qualidade do bom observador infalível!), sei a área que tem e até possuo uma eficiente salvaguarda em minha introspecção. O grande problema é que acertar o caminho que nos expurga desse processo de implosão é como acertar a linha no buraco da agulha - e a agulha, seguindo também o processo, anda includindo cada vez mais e mais.

Eis aí a justificativa do meu recesso. Mas eu bem sei que a linha sempre se acerta, uma hora ou outra.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Epitáfio

Aqui jaz o primeiro de todos os textos que ousou em morrer. Será rápido porque morte não demora e justo porque não demora também não dói - ao contrário do que alguém deveras audacioso ousou espalhar por aí.
Morrerá com o intuito de lhe tirar essa aparência de orgânico que aparenta ter, quando tão bem explicado é sempre tão palpável a idéia central - e até mais do que tudo isso que vemos por aí - que caímos na ilusão de entregarmo-nos a fundo nele.
Quando ele também tão farto fica, quanto essas idéias tão fartas ficam. Eis o primeiro texto velho e cansado que assume que também chega às cinzas - mas só o fez com o intuito de te atentar a outras coisas, te envolver em outras formas. Na tua forma.

Aqui jazem as primeiras idéias que ousaram em morrer. Mas não te preocupas porque elas não são orgânicas; elas morrem e revivem quando bem entenderem.

Ei-lo-aí meu recesso.