domingo, 6 de setembro de 2009

Penso, logo não durmo


AVISO: O Blogspot.com cansou de não se responsabilizar pela leitura e, atualmente, simplesmente não se importa.

Certa noite, dessas de nenhuma particularidade especial ― em que não há lua cheia, ou ao menos não se sabe se há lua cheia ―, uma figura adentrava no compartimento de trabalho da outra. A figura, da qual vale a pena ressaltar seu aspecto flatulento e decadente (desde a camisa de botão apertada que acentuava sua gordura, grande altura e mamilos aos óculos de tartaruga que retiam os pingos de suor provenientes de uma atual área de couro cabeludo desmatado), verificou bem o lugar onde tanto havia demorado para chegar e, ao perceber uma placa com os dizeres "Departamento do Lobo Occipital", despejou sobre a mesa a pilha de dois andares de livros, planilhas e todo tipo de material que trazia consigo.

― Aqui estão, senhor! Informações que você vai precisar pro desenvolvimento do pensamento...

A outra figura do outro lado da mesa ― e todas essas características das personagens são tão inúteis como o céu de hoje, mas, ainda assim, iremos falar ― tinham olhos fundos, que não piscavam uma vez e, quando falava, notava-se muita cautela para que articulasse bem as palavras que soltava. Era medroso, verdade. Contudo, se não fosse medroso, seria um "balbuciador de palavras" e, portanto, louco.

... Pensamento?! ― comunicava com grande esmero uma fala que nem era tão engenhosa assim.
― Isso, amigo, trouxe informações de tudo que é lugar e tempo: desde Nabucodonosor até as fornecidas há instantes pelo Twitter do presidente americano. Trago também intertextualidades: as regras do novo acordo ortográfico e a ordem político-econômica de todos os países participantes. Tenho a utilização perfeita de todos os elementos químicos na culinária; o sentimento nacionalista exacerbado entre povos antigos já esquecidos: os Smurfs...
O QUE É ISSO?! O SISTEMA ENLOUQUECEU?! ― interrompia e berrava o Chefe do Departamento ― isso é a coisa mais absurda que já ouvi! Afora a situação política dos Smurfs, como poderei administrar toda essa informação agora? E desde quando o pronome de tratamento que você deve dirigir a mim é "amigo"?
― Desculpe, amigo.
― Senhor!
― Senhor.

O desengoçado mediante ficara petrificado com a reação do Chefe em relação às informações trazidas. Por sorte, haviam lhe precavido que tal situação poderia ocorrer e lhe guarneceram com um papel de instruções para casos de emergências e revoltas. Meteu a mão no bolso e tornou a ler:

― Hã... tem algum livro de Domenico de Masi aí no meio, não tem?!
― Tem.
― "Ócio Criativo"?
Isso ― falava com um olhar cortante, de que não caíria na possível pedante argumentação que poderiam incutir no tolo mediante.

O mediante olhava uma parte do papel que, devido ao seu suor, havia borrado e se tornado completamente ilegível.

Olha, eu não consigo entender o resumo ou a problemática do livro, mas uma intuição me diz que você deve unir todas essas informações a fim de, no futuro, usá-las numa perfeita combinação entre lazer, negócios e criatividade, sabe, senhor.
Intuição?! ― falava com deboche o do outro lado da mesa
Isso mesmo, amigo.

O Chefe do Departamento começou a pensar sobre a ideia, ou ao menos foi o que aparentou fazer, até sua boca começar a espumar fortemente, seu corpo começar a cair e convulsões tenham sido começadas. Tudo isso porque, antes de se comunicar, não havia estruturado bem suas palavras. Não pensava, balbuciava. Entretanto, tornou-se corajoso, enfim, mas, como suspeitávamos, tornou-se louco.

― Informações... tirar... daqui... mesa

Por alguma razão literária, ele até se expressou bem, porque o mediante conseguiu entendê-lo (embora sempre ache que nunca consegue entender decerto bem)

Não estou entendendo, amigo! "Tirar informações"?! E levá-las para onde?
Amontoe-as... ali... Sessão Onírica Automática...
Sessão Onírica?! "Automática" ainda por cima, que colocam informações tão desordenadamente! Isso não tem o menor sentido...

Com olhos cada vez mais fundos, espuma cada vez mais densa, o Chefe do Departamento, ainda assim, conseguiu formular um único berro inteiro:

O SISTEMA QUE NÃO FAZ O MENOR SENTIDO! SÃO 03:37 DA MANHÃ! MANDE TUDO PARA A SESSÃO ONÍRICA AUTOMÁTICA JÁ!
Mas, amigo...
É SENHOR!