segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ode(-)aos seres atemorizadores

Antes mesmo de iniciar este parágrafo, só para constar, queria deixar claro minha relutância em iniciá-lo. Se já fiz o estrago, é porque nem mesmo as ideias banais devem ser relegadas. Não porque elas podem ser boas ideias disfarçadas, ou porque – leiam com pedantismo – “possuem a profundidade resgatada do mais longínquo pueril pensamento” (e não preciso nem explicar a metafísica possível dessas doces lembranças) mas porque, se não as expurgarmos de alguma forma, elas nos dominam.

“Ode-aos seres atemorizadores” é muito mais forte do que eu ou você. É um impulso descontínuo que, em qualquer sinal de alarde, te cobre nestes indesejados momentos... mas infelizmente – e justo por ser intermitente – falho. Ao decorrer da companhia muito longa do semi-conhecido, do desconfiado parente de um ex, de um atual ou simples e genérico como qualquer ser que, maldosamente ou não, te prepare um maçante e indelicado questionário a fim de espicaçar e atormentar a dura quitina do qual tentávamos metamorfosear só um tiquinho que o fosse, é que então acontece.

Paranóia presa na garganta – porque as sensações mais iminentes do corpo sempre ficam por lá –, uma explosão de corante sobre o rosto, chumaço de algodão no lugar do cérebro e, consequentemente, todos os sistemas do organismo trabalhando irregularmente e entrando num caos generalizado, como o encurtamento das pregas vocais, por exemplo, que, num ato desesperado e irracional – desconfia-se de relação com o sumiço da massa encefálica – resolvem mutilar-se, de modo a provocar uma voz mais aguda e fina do que a normal, além de alguns engasgos devido a alguns órgãos da garganta fora do lugar.

Com muita engenhosidade, o lado esquerdo do chumaço te propõe a ser o que você não é, porém, o lado direito, aquele capaz de lograr com êxito o tamanho desafio da criação, está ocupado demais já fazendo surgir um pequeno pé-de-feijão dentro de si.

Esse é o momento. Muitos pontos aqui. A Terra caminha num slow motion. A pessoa te olha. Espera um início de conversa. Enquanto isso, no entanto, você está estatelado e profundamente intrigado sobre como é possível crescer um pé-de-feijão no corpo e, o que é mais incrível... num algodão. O lado direito, graças, improvisa:

- Mas esse engarrafamento, viu?