quinta-feira, 7 de maio de 2009

E quando se é de Marte?



Quem vive perdendo a cabeça por aí, acaba se perdendo por outro planeta e, às vezes, nem sabe. O grande problema é descobrir que a cabeça não ficou na Terra, mas ainda pior que isso é descobrir que ela sempre esteve na Terra.

Para aqueles que tem seus gases sendo exalados constantemente por estes ares, há de sentir curiosidade, ao menos uma vez na vida, de como seria se permitisse à suas moléculas um passeio por entropia por outros ares que bem entenderem. Quando se é criança, as migrações são muito mais fáceis, mas depois o espírito nômade vai se esvaindo, se transformando numa respiração terráquea nua e crua, muito bem conformada em sê-la. Porém, todo esse processo de respiração contínua aqui neste ambiente terrestre é sempre muito cansativo e nos remete à uma pequenez. Antes só isso e seria o bastante! O problema pior é que o ser-terráqueo é suficientemente ingênuo a ponto de se satisfazer com sua individualidade e, por se achar deveras grande, desenvolveu tanto trabalho, que este não só chegou a ser prejudicial, mas também soube evoluir muito bem, obrigado, a sua pequenez. Entretanto, pasmem, a vida de um indíviduo terráqueo acaba! Logo, para quê mesmo que serviu sua perspectiva limitada à um ambiente que, aliás, só nos serviu sua hospitalidade na tão - e muitíssimo, incrivelmente, estupidamente e muítissimo de novo - recém-formada Era Cenozóica?
A cabeça "bem (in)formada", portanto, pode não ser bem formada coíssima alguma se estiver muitíssimo saturada de informações que serão usadas - dignamente, não nego - neste planeta. Entretanto não é ingênuo da nossa parte dizermos que viverá tanto assim esta Era Cenozóica?

Bom mesmo é se soubéssemos distinguir bem os mundos que copenetram em nossas cabeças ou vice-versa, podendo assim, sermos mais seletivos quanto ao que cada mundo nos oferece, não permitindo uma sobrecarga no sistema. Quanto a "sair dos planos da Terra", nem cogite ser o outro lado uma falsa-verdade a ser vivida, posto que ninguém sabe o que se é. Afinal, embora estejamos já há uns 200 mil anos por aqui, ninguém nunca respondeu perguntas simples como "de onde viemos e para onde vamos?", então como acreditar fielmente às verdades daqui?

Se há uma verdade é a de que reconhecer a vida terráquea como um todo, é reconhecer que ela é uma vergonha. Não é viável, portanto, que se pense apenas sob os padrões terrenos: seria uma sobrecarga do sistema desnecessária.
Não entender todas as coisas terrenas não é uma praga. Entender completamente, porém, subjuga o indivíduo oficialmente a pequenez. Além de acabar com toda a amistosidade possível entre os mundos e claro, acabar com toda a diversão que é fugir desse cansaço cenozóico que todos estão carecas de sabê-lo.

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector

Inventada? E tem como saber isso?
À propósito, o quentinho terráqueo não é o mesmo quentinho marciano...

Um comentário:

Renato Neves disse...

E então, que entendamos um pouco não só das terrenas, mas das marcianas, plutonianas (que mesmo não sendo mais um planeta, coitado, ainda merece ser considerado um lugar para se viver!), damogranianas...

Que mundos próprios e coletivos não faltem para serem criados nessa nossa breve passada cenozoica!

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Venusa é uma louca por te mandar ser concisa. Que não afete teu estilo próprio :*