terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Nada vai dar certo

Sabe a sensação de sentir vontade de pular diante de uma grande altura? Bem, eu não tenho. Já tive, no entanto, medo de um impulso despreparado pra tal queda.

Eu me mazelava a pensar nesse impulso. Talvez porque eu ainda me queixava assustada como uma gazela sobre o tombo, digamos subjetivo, que eu havia levado. Eu, dona d’um nariz raro e suíno, passei a caminhar toda eriçada como porco-espinho – e fazendo porcarias de metáforas e agora trocadilhos como estes – pra me manter distante do que me era próximo.

Até que então dei por mim dentro dum taxi, ouvindo histórias e curiosidades de um engenheiro aposentado do sotaque marcadamente gaucho. Não demorou muito pra ele perceber, através do espelho, meus tiques nervosos de mexer no nariz durante a conversa. Após uma pergunta curiosa do taxista e um breve resumo sobre umas expectativas (me desculpem amigos que evitei o papo, era uma conversa (de) passageira), o taxista me olhou pelo espelho, riu e falou com sua voz ritmada:

- Você anda pensando errado. Quer uma dica? Nada vai dar certo.
- Nada vai dar certo? Como o filme? – disse rindo – Mas isso faz sentido?
- Claro que faz. Quando dava aula, por exemplo, dizia isso a meus alunos antes de qualquer seminário “Fiquem calmos. Nada vai dar certo.”. Funcionava, eles se sentiam mais relaxados, no mínimo por terem rido como você.

Ele falava com tanta honestidade que tive de comprar. O que concebo, hoje, após ouvir conselhos de “dar tempo ao tempo” é que às vezes não dá certo e às vezes, pior, dói por demais o baque.
Bem, que essa noção de uma eventual realidade paralela – note: nem sempre adversa – aos nossos planos nos torne mais corajosos. Não desejo o pessimismo nem pregar uma filosofia estóica, mas precisava fazer uma correção (já com o devido crédito) do mantra que, algumas vezes, simplesmente não dava certo.

Um comentário:

Débora S. Britto disse...

É um consolo genial, eu diria.